INFORCHANNEL | A TRADIÇÃO VAI ATRÁS DE INOVAÇÃO

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Públicada em: terça-feira, maio 17, 2022

Fonte: Inforchannel | Publicado em 05/2022 | Clique aqui e veja a publicação original

Dinâmicas e inovadoras, as startups estão, há algum tempo, no radar das corporações. Investir nesse perfil de empresa, seja comprando uma fatia ou a totalidade, tem sido um instrumento cada vez mais utilizado por companhias de segmentos variados. O objetivo, normalmente, é fomentar a inovação, agilizar a adoção de novos modelos de negócio e incorporar novas tecnologias. Mas isso não significa o fim dos departamentos de Pesquisa e Desenvolvimento, P&D. Ao contrário, se trata de estratégias complementares
e que a união pode dar (muito) certo.

“A startup tem em seu DNA o mindset de testar rápido; é o chamado fail-fast. Elas são mais rápidas em perceber problemas e trazer soluções. Para uma corporação prover uma nova ferramenta, ela tem que passar por uma burocracia que faz parte do processo de empresas maduras”, explica Diogo Garcia, sócio- diretor e líder do programa Emerging Giants da KPMG.

As corporações entenderam que as startups desenvolvem soluções de tecnologia mais rapidamente, que são escaláveis e que resolvem problemas sem ter os entraves de uma grande companhia. Assim, as startups podem — e devem — complementar o portfólio das empresas e impulsionar seus negócios, conectando- se à área de P&D. “A inovação pode vir de fora e esse olhar é muito importante, porque, às vezes, se tem o mindset enviesado”, assinala o executivo da KPMG.

Com mais e mais empresas inovadoras se lançando ao mercado, aumentam exponencialmente as opções por soluções, produtos e serviços. Como elas nascem dentro do conceito de uma organização criada em mundo incerto para resolver um problema e não sabem se aquilo vai emplacar — até por isso a mortalidade é alta —, as startups focam no fail-fast. Por outro lado, quando acertam, as chances são altas de desenvolverem soluções disruptivas e mudarem todo um mercado. “Se as companhias não se antecipam e não buscam empresas menores, correm risco de que as startups cresçam e se tornem suas competidoras, ou ainda, que sejam incorporadas por atuais concorrentes”, acrescenta Garcia.

Se, antigamente, as inovações só ocorriam nos laboratórios de pesquisas dentro das corporações, hoje não é bem assim. Os centros de pesquisa e desenvolvimento são tão importantes quanto outros atores do ecossistema de inovação. “As startups são mais inovadoras exatamente porque prezam pela agilidade, flexibilidade para “pivotar” algo que não está certo; têm diversidade de visões e capacidade de “se virar nos 30” como foco na solução real do problema. Elas testam modelos sem medo de errar e refazer de um jeito melhor”, diz Patrícia Mendlowicz, mestre em Direito e Economia e responsável pelas áreas de inovação e marketing no Martinelli Advogados.

O coautor do livro Saída de mestre: estratégias para compra e venda de uma startup Eduardo Cosomano, corrobora essa tese: “Startups não acabarão com a área de P&D; elas vêm como um braço”. As empresas com esse perfil preenchem uma lacuna nas grandes companhias que têm uma série de regras, processos e aprovações que tardam ou dificultam o caminho para a inovação. “É mais fácil esperar uma startup, que não está presa a amarras inovar, e, então, comprar. Até porque elas promovem inovações que muitas vezes são impraticáveis por uma grande empresa”, completa.

Tem de dar match

Incorporar startups passou a ser um posicionamento importante no mundo atual. Contudo, isso não é obrigatório. “Não podemos entrar na hype de que todas as companhias têm de se conectar a startups”, alerta Garcia, da KPMG. Entender qual é o momento da empresa, qual é a sua estratégia e qual é o problema de negócio que quer resolver são questões que devem ser colocadas à mesa ao se avaliar uma aquisição ou um investimento desse tipo.

Além disso, deve-se avaliar se a companhia está preparada para assimilar o ecossistema da adquirida e tudo que ele envolve. Mesmo porque, a cultura e o mindset de startups normalmente são diferentes de grandes corporações. É preciso um plano certeiro para que o match realmente funcione!

Um dos aconselhamentos é ter em mente o que se quer com a parceria ou a aquisição, ou seja, o que se busca alcançar, qual é o objetivo. Outro é ter o cuidado de não engessar a startup, garantindo que ela tenha autonomia necessária para seguir inovando. Não há uma fórmula de sucesso. Há empresas que fazem essas aquisições e as mantêm separadas, inclusive sob suas marcas.

A startup também deve escolher por quem quer ser vendida e contar com mais de uma possibilidade de aquisição. “Tem de existir a preocupação com a retenção do talento, e é muito difícil, porque os empreendedores normalmente não são pessoas que se motivam apenas com dinheiro. Precisa haver um programa de “intraempreendedorismo”, detalha Cosomano.

Para Alexandre Souza, coordenador da carteira de startups do Sebrae de Santa Catarina, do StartupSC, houve um processo de mudanças internas em grandes companhias que abriu caminho para a incorporação de empresas inovadoras recém-criadas. “Elas estão mudando a cultura, ficando mais abertas e hoje, quando conversam com startups há mais sinergia. Em 2010, 2012, o choque era muito forte, tanto que alguns processos não deram certo porque eram culturas muito diferentes. Mas isso mudou e elas querem aprender com a aquisição”, diz.

Se as empresas adquiridas não matam os departamentos de Pesquisa e Desenvolvimento, elas demandam mudanças. Como startups e P&D se conectarão vai depender da estratégia
de cada companhia, mas há pontos em comum. Rever a maneira como P&D trabalha, deixando o departamento mais aberto e olhando para inovação rápida, contínua, para o ecossistema de empreendedorismo é um pilar.

Uma empresa inovadora chega para complementar e não para matar o P&D. “Dependendo do ramo que você quer inovar, você vai precisar de muita pesquisa, como é o caso do farmacêutico. Mas, se quer expandir e depende de ferramentas tecnológicas, é melhor adquirir startups. Vai depender do negócio”, pondera Souza, do Sebrae-SC.

Patrícia Mendlowicz, advogada no Martinelli Advogados, diz que nos últimos dois anos houve uma aceleração do processo de compras de startups, mas ressalta que, apesar desse movimento, P&D interno de uma companhia não está acabando. “P&D é inovação fechada, de segredo, de propriedade intelectual. Durante muitos anos, este departamento foi visto como único ponto de se fazer inovação. Hoje vemos que qualquer lugar é passível de gerar inovação, desde que esteja aberto a isso; pode ser área de tecnologia, RH”, avalia Mendlowicz.

Ela acrescenta que há uma linha de se readequar os departamentos de pesquisa e inovação, de modo a ficarem mais ágeis. Portanto, o ideal é ter P&D interno e um braço de inovação aberta, trazendo um olhar novo. O grande diferencial das startups, nesse contexto, é aportar o conceito de cultura de inovação, processo ágil, fomento à curiosidade, ao trabalho colaborativo.

Mercado aquecido

Segundo a CB Insights, o relatório Corporate Venture Capital (CVC) publicado pela Distrito, apontou que somente no ano passado, os valores investidos por CVC – fundo criado por uma empresa para investir em startups e outros negócios, globalmente se aproximaram dos US$ 80 bilhões e totalizaram 2099 deals. No Brasil, ainda segundo o relatório, essa modalidade já movimentou US$ 1,3 bilhão ao longo dos últimos 20 anos, sendo a maioria de 2013 para cá, e está em ascensão. “Ao longo de toda sua história, este é o momento mais próspero e de maior difusão do CVC, com o primeiro semestre de 2021 superando o recorde do ano de 2020”, destaca o relatório.

De acordo com o relatório da Distrito, o cenário brasileiro de Corporate Venture Capital está crescendo muito, com 162 rodadas de investimento envolvendo CVCs no País (212 contando as rodadas sem valores revelados). Aproximadamente 70% desses investimentos estão concentrados nos estágios iniciais, Seed e Pré-Seed.

A pandemia — como se vem frisando repetidamente — obrigou as empresas a se digitalizarem e a criarem soluções para atender às mudanças de comportamento. Melhorar a logística ficou em evidência, assim como prover soluções para atender à área da Saúde, especialmente, em Telemedicina. Nesse ambiente de urgente inovação, as startups ficaram
ainda mais atraentes.

Souza, do Sebrae-SC, assinala que M&A já vinham acontecendo, principalmente no mercado de tecnologia, mas os cheques eram menores, de R$ 20 milhões a R$ 30 milhões, e com objetivo de ampliar portfólio de produtos e verticais. O cenário atual é um pouco diferente. “As fusões e aquisições cresceram muito e começaram a aparecer vários outros atores, como a Magalu adquirindo forte, assim como os setores de Educação e de Saúde”, afirma. Grande parte das movimentações, explica Souza, tem como meta acessar um novo tipo de segmento de mercado e um novo público, diferentemente de antes, que era tudo dentro de uma mesma cadeia. “O que vemos hoje são empresas comprando para estender o crescimento para outras áreas, para ir a outros segmentos”, diz

Startup… mas até quando?

Literalmente o termo startup quer dizer algo como nascente. Contudo, o conceito que rotula o que se convencionou chamar de startup vai muito além da idade de uma empresa. Elas não são um Cnae, sigla para Classificação Nacional de Atividades Econômicas, nem
delimitadas por certo número de funcionários, mas sim, por prover algo disruptivo.

Startups são aquelas que, segundo Alexandre Souza, do Sebrae-SC, provêem produtos ou serviços que tragam inovação em um ambiente de extrema incerteza e que entreguem algo que seja repetível e escalável.

Patrícia Mendlowicz, do Martinelli Advogados, define startup como uma organização temporária criada para desenvolver produtos ou serviços, normalmente dentro de uma boa base tecnológica, que solucionem um problema latente. Elas têm como principal desafio criar um produto ou serviço que seja escalável, que tenha um crescimento rápido.

Não se trata de uma questão de tempo ou de faturamento, porque as startups não estão rotuladas pelo tamanho, mas sim, pela mentalidade e pelo crescimento rápido. “Nos Estados Unidos, quando você abre capital, deixa de ser startup. No Brasil, começamos a ter muito mais IPOs agora”, diz Souza. “O sonho de toda startup é deixar de ser; e isso ocorre quando ela encontra o modelo de negócios e automaticamente quando encontra a fonte de receita”, complementa.

Na mesma linha, Diogo Garcia, da KPMG, salienta que, obviamente, têm as empresas que estão começando — e o nome remete a isso — e há as empresas que não são nascentes, mas que têm característica de surgir em contexto incerto para resolver um problema. “Muitas empresas se dizem startups, porque têm o mindset de errar rápido. Têm empresas que já são unicórnios, mas ainda possuem a cultura e o espírito de “startateiro”, explica. O mindset, portanto, é o ‘x’ da questão quando se quer definir startups. No DNA, elas mantêm vivo o espírito inovador, uma estrutura horizontal, de rápida tomada de decisão.

Atualmente, as startups estão ficando mais maduras e chegando mais bem preparadas para fundos e investidores. Assim, mostram-se mais interessantes a quem quer aportar capital, uma vez que o investidor tem visão de futuro e de negócio e quer ter retorno financeiro na transação. “O fato é que hoje quem vai preparar uma startup quer virar unicórnio; já entra com outra pegada. O mercado está extremamente profissionalizado. Se você quer empreender, criar startup, tem de fazer análise de nicho, ser sustentável, entender a mecânica do negócio”, aponta Patrícia Mendlowicz, do Martinelli Advogados.

Uma startup deixa de assim o ser quando consegue tornar o negócio estável, escalável, rentável e sustentável. Na linguagem técnica, diz Mendlowicz, quando encontra o seu product market fit, ou necessidade real atendida pelo problema, o channel product fit, ou produto ideal no canal ideal, e o total addressable market (mercado foco mensurado). “Até que isso ocorra ela é uma startup e vai precisar de reinventar, “pivotar”, reavaliar ideias, enfim, cuidar para não se perder no processo e ingressar no rol de startups que quebram nos primeiros dois anos de vida”, explica.

Compras em série

Do lado de quem compra, a nuvini baseou sua estratégia na aquisição de startups e está montando seu ecossistema de soluções de software como serviço, SaaS. Até agora, foram seis transações focadas em três verticais: marketing e vendas; produtividade; e finanças e controle. Criada pelo empreendedor Pierre Schurmann, a nuvini seguirá seu plano de compras em 2022. “Vamos continuar consolidando”, diz Schurmann. Segundo ele, a ideia é adquirir de dez a 15 empresas neste ano para terminar 2022 com 16 a 22 empresas no portfólio.

Schurmann conta que o processo de M&A visa a construir portfólio, fortalecer as verticais de atuação e a criar oportunidades de cross selling. “Nosso modelo começou com visão de holding; essa é a tese”, diz, explicando que, ao colocar na balança os prós e contras, o capital e o tempo necessários para comprar ou desenvolver do zero, acabou-se optando pelas aquisições. “Ao comprar algo que está funcionando, você acelera o ciclo, a velocidade de crescimento e reduz o risco, porque a empresa já está atuando”, avalia.

A nuvini olha para startups que faturam entre R$ 20 milhões e R$ 25 milhões por ano, que estejam crescendo a uma taxa de 30% por ano e que tenham Ebitda positivo. Normalmente, elas têm seis anos, em média, e um time estruturado.

Como o modelo é de consolidação, a holding trabalha com dois pilares estratégicos que norteiam questões culturais. “Um é não interferir nas empresas que têm cultura estruturada e o outro pilar é formar uma unidade com todos os colaboradores por meio de uma série de eventos, tanto de conteúdo como de celebração. Eventos que todos os colaboradores participam e servem para criar o senso de pertença. Mas as culturas das empresas são preservadas”, ressalta.

Questionado sobre como enxerga o movimento de aquisição de startups para acelerar inovação, Pierre Schurmann diz que é importante para as empresas tradicionais, que precisam inovar, trazerem uma visão diferente e, para isso, podem ter um custo muito grande para mudança interna. “A aquisição passa a ser uma boa opção para acelerar esse processo e mitigar o risco. Para as startups também, sendo que as duas maiores empresas que temos no mundo (Meta e Google) cresceram comprando startups, como o Instagram, WhatsApp, YouTube”, aponta.

As empresas de tecnologia líderes no mundo entenderam esse mecanismo e hoje são as maiores do mundo. Aquelas que não são tão grandes e não têm tecnologia, deveriam entender como trazer a inovação para dentro da organização, por meio de aquisições.

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