VALOR | ESCASSEZ DE RECURSO PÚBLICO ESTIMULA FIDCS PARA O CAMPO

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Públicada em: quarta-feira, maio 31, 2023

Fonte: Valor Econômico | Publicado em 31/5/2023 | Clique aqui e veja a publicação original

O cenário de escassez de recursos públicos para subvencionar o crédito rural oficial tem ajudado a impulsionar outros mecanismos de financiamento do agronegócio. Nos primeiros quatro meses deste ano, a movimentação financeira em Fundos de Investimentos em Direitos Creditórios (FIDCs) voltados ao setor aumentou 8,85% na comparação com o quadrimestre inicial de 2022 e alcançou R$ 15 bilhões, de acordo com dados da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), compilados pelo escritório Martinelli Advogados.

O crescimento da movimentação nesses fundos se deve, principalmente, à alta dos juros no sistema financeiro. Walter Henrique Fritzke, chefe de Serviços Financeiros do escritório, diz que o aumento dos FIDCs se deve ainda ao novo arcabouço jurídico que facilitou a estruturação desses fundos. Antes, diz, “entrar no sistema financeiro era difícil e moroso. Agora, uma empresa, entidade ou cooperativa pode criar a sua própria estrutura financeira como forma de oferecer mais um serviço ao seu cliente”.

O aumento ocorre mesmo com a opção de investimentos nos Fiagros. Em dezembro de 2022, o saldo dos FIDCs do agronegócio era de R$ 13,8 bilhões. O crescimento foi de R$ 1,22 bilhão de janeiro a abril deste ano. O levantamento buscou fundos que possuem mais de 10% da carteira investida em direitos creditórios do agronegócio, chegando a 71 fundos.

Segundo Fritzke, essa modalidade ajuda a trazer mais liquidez para o segmento pela dinâmica do sistema. “O foco do FIDC é financiar toda a cadeia produtiva para fazer a roda girar”, apontou.

Em 2022, foram criados 361 novos FIDCs, em geral. O número de fundos registrados na CVM alcançou 1.908 no fim do ano passado, alta de 23,4% na comparação com 2021. O agronegócio, de acordo com o levantamento do Martinelli, representava 3,9% da carteira de direitos creditórios. O sistema financeiro é o líder nesse segmento com (32,5%), seguido do Comércio (20,2%), Crédito (16,5%), Indústria (12,8%) e outros (14,1%).

Ao todo, os FIDCs movimentaram R$ 377 bilhões em 2022. Em abril deste ano, já eram 2.027 fundos, com R$ 405,5 bilhões. “Ao longo do ano de 2022 vimos a Selic aumentar mais de 4 pontos percentuais, o que

automaticamente transformou os ativos de renda fixa em alvos para o mercado de capitais. E os FIDCs – um dos veículos de investimento nesse setor – tiveram um crescimento do patrimônio superior a 20% ao longo do ano”, analisa Fritzke.

“Foco do FIDC é financiar toda a cadeia produtiva para a roda girar”
– Walter Fritzke

A resolução CVM 175, do fim de dezembro e que normatiza o mercado de fundos de investimentos, pode ser uma modernização regulatória interessante para o setor, destaca Fritzke. Segundo ele, a norma deve dar mais segurança aos agentes de mercado e aumentar o número de players nesse setor. “Esperamos, com essas mudanças, que o mercado de FIDCs atraia ainda mais liquidez. Para 2023 estamos otimistas de que o setor se mantenha aquecido”, completou.

A aproximação do agronegócio com o mercado de capitais já aparece nos números da Galapagos Capital, gestora fundada por Carlos Fonseca, ex-BTG e C6 Bank. Quase metade dos R$ 5 bilhões investidos recentemente foi para operações com o setor. A empresa soma R$ 765 milhões em Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA), R$ 172 milhões em Fiagro e R$ 68 milhões em Fidc.

Ricardo Ticoulat, sócio e gestor da empresa, diz que o setor foi um dos atingidos pela crise de crédito gerada pelo rombo nas Americanas neste ano. Diante do problema na varejista, os bancos reduziram as linhas de risco sacado, usadas pela agroindústria para adiantar pagamentos a fornecedores, e aumentaram os prêmios de crédito.

Ele acredita que o mercado de crédito deve voltar à normalidade daqui a algum tempo, mas vê como tendência o agronegócio dependendo menos dos bancos. “O mercado de capitais vem se desenvolvendo muito bem. Mecanismos como o Fiagro [Fundo de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais] garantem governança, regulamentação e segurança aos investidores”, diz.

A Galapagos foi responsável pelo primeiro Fiagro do país, hoje com mais de R$ 170 milhões vindos de cerca de cinco mil investidores. A inadimplência é zero. Segundo Ticoulat, o agro é diverso em si mesmo, e isso é positivo para reduzir os riscos aos investidores.

A empresa participou da AgriShow deste ano, em Ribeirão Preto (SP). Ticoulat afirma que lá houve demanda de vários elos da cadeia, e não só para as atividades agrícolas. “Muitos produtores são donos de incorporadoras e outros negócios que também precisam de recursos”, diz.

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