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Oferta via crowdfunding cresce 322% no primeiro semestre puxada por produtos securitizados

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A oferta de instrumentos do mercado de capitais via plataformas de crowdfunding no primeiro semestre deste ano saltou quatro vezes sobre o volume registrado em igual período de 2024, chegando a R$ 1,9 bilhão. As emissões, simplificadas pela CVM 88 de 2022, ganham espaço com a maior rapidez na colocação do papel e pelos retornos elevados (padrão high yield) que chamam a atenção de investidores institucionais e pessoas físicas. O rápido crescimento deste mercado, puxado pelos produtos securitizados, estão na mira do regulador que planeja mudanças nas regras que podem incluir, segundo fontes ouvidas, elevar o limite ofertado hoje em R$ 15 milhões por patrimônio separado, e como contrapartida aumentar o nível de informações requeridas dos emissores.

As ofertas via plataformas de crowdfunding apresentam um crescimento expressivo desde que a Resolução CVM 88 disciplinou, em 2022, a distribuição de valores mobiliários emitidos por sociedades empresárias de pequeno porte, com ofertas públicas com dispensa de registro. No ano seguinte, dois ofícios Circulares 04 e 06 avançaram nas orientações sobre token de recebíveis. Entre 2023 e 2024, a oferta destes ativos pelas plataformas de crowdfunding saltou de R$ 90 milhões para R$ 450 milhões – volume já superado com folga em apenas seis meses de 2025 (R$1,9 bi).

Dados da CVM, organizados pelo sócio-diretor de Investimentos Alternativos do Clube FII, Felipe Ribeiro, a pedido da Capital Aberto, reforçam o protagonismo dos produtos securitizados. Do estoque ofertado pelas plataformas de crowdfunding desde 2018, os Certificados de Recebíveis (CR) chegam a R$ 2,06 bilhões, seguido por dívidas conversíveis ou não em ações, com R$ 832 milhões, e por CRI e CRA, com respectivamente R$ 404,06 milhões e R$ 335 milhões.

“Os ofícios deram orientações importantes para o que já vinha sendo feito, que já tinha cara de securitização. Com as circulares, o mercado passou a ter clareza do rito, das regras e a ser supervisionado pela CVM”, comenta advogada especialista em securitização do Martinelli Advocacia Empresarial, Ila Sym, acrescentando que a fixação do limite de até R$ 15 milhões por oferta atraiu empresas de menor porte para o mercado de capitais. “Operações securitizadas, neste valor, pela CVM 160, não valiam a pena. Com o ritmo mais simplificado da 88, começam a ganhar espaço. Dá para ofertar ao investidor pessoa física papeis nas plataformas por um tíquete de R$ 10 mil, R$ 15 mil, com taxas atraentes e ofertas rápidas.” Enquanto estruturar um papel securitizado pela 160 pode demorar 60 dias, pela 88, destaca Ila, é possível em 15 dias e com menos custos.

Dados da CVM confirmam o crescimento do investidor pessoa física que adquire valores mobiliários via crowdfunding. Para o perfil de investidor não qualificado, até R$ 20 mil, no primeiro semestre do ano passado eram 13.950 pessoas, contra 24.119 no mesmo período deste ano. Para não qualificados com investimento acima de R$ 20 mil, na mesma base de comparação, o número de investidores saltou de 6.258 para 9.611; para qualificados acima de R$ 20 mil a atratividade foi ainda maior: a base avançou 323%, a 55.878 pessoas.

“As novas regras estão cumprindo seu papel, abrindo as portas para empresas menores captarem via crowdfunding e dando acesso ao investidor pessoa física, com tíquetes menores, mas o rápido crescimento chama a atenção para a transparência das operações e os riscos que nem sempre o investidor avalia”, comenta Felipe Ribeiro, acrescentando que uma das possíveis mudanças da CVM pode ser elevar a barra informacional dos emissores. “São papeis high yield e, com o crescimento rápido do setor, a tendência é o regulador (CVM) olhar para as operações”, comenta Ribeiro, lembrando que recentemente Bruno Gomes, superintendente de Securitização e Agronegócio da CVM, afirmou que a 88 será revisada.

Na visão do CEO da PeerBR, plataforma de crowdfunding do Grupo GCB, o que ainda limita o crescimento do setor é o valor de até R$ 20 mil por investidor não qualificado. “Muitos não têm um milhão de reais, mas têm R$ 300 mil, R$ 200 mil e poderiam investir mais do que o limite atual. Uma mudança importante seria destravar este valor”, comenta Gustavo Blasco. Na plataforma, 95% dos investidores que compram ativos mobiliários são pessoas físicas, 70% deles no universo dos investidores qualificados. No primeiro semestre, a PeerBR movimentou R$ 363 milhões em ativos mobiliários, alta de 113% sobre igual período de 2024. No ano passado sobre 2023, o crescimento chegou a 590%. A plataforma só trabalha com dívida, não emitindo ações.

Sobre eventuais mudanças na CVM 88, o CEO destaca a possibilidade de aumentar o limite de emissão de até R$ 15 milhões/patrimônio separado. “Acho que é justo exigir mais informações, você tem que sempre ser o mais transparente possível. A nossa tese é que deveria poder emitir qualquer coisa, qualquer empresa, independentemente do nível de risco, independentemente de ser operacional, pré-operacional, nível de faturamento, deveria poder captar dinheiro”, afirma Blasco.

Sobre os riscos do crescimento junto à pessoa física de papeis com perfil high yield, o CEO da PeerBr reconhece que o investidor não costuma acompanhar as operações. “Isto é um fato, mas nós somos responsáveis pela emissão e distribuição e se houver algum problema, uma fiscalização, a plataforma responde. Nossas operações têm bastante garantias”. Para chegar a este investidor de varejo, a PeerBR utiliza o marketing via rede social, Instagram, Google, Facebook, alguns influenciadores, e o braço de assessoria Wealth Management do Grupo (de 30% a 40% da base). Para 2025, Gustavo Blasco planeja chegar a R$ 1 bi de oferta.

Outro ator importante no mercado de crowdfunding é a Captable, que em 2024 captou R$ 151 milhões e no primeiro semestre deste ano já chegou a R$ 66,32 milhões, volume 266% maior do que em igual período do ano passado. Sobre o bom desempenho do mercado, Paulo Deitos, fundador e CEO da Captable, considera que “é só o começo” citando operações “sexies” que sempre vendem.

As mais recentes incluem, em equity, recursos para a Future Cow, que produz leite de vaca, sem vaca e em laboratório, e a Cellva, que produz gordura de porco, sem porco. “Temos operações e R$ 1 milhão a R$ 2 milhões, para este tipo de empresa, e outras de R$ 10 milhões como um CRI que estruturamos para a Ecopower, de painéis solares. A maioria das operações é de securitização, que veio para ficar e ser o motor do setor”, comenta Deitos, acrescentando que o crowdfundig (CVM 88) não vai “roubar” espaço da CVM 160. “Não afeta as operações tradicionais. Tem uma base da pirâmide que nunca nem sequer entrou no mercado de capitais e é essa base que está chegando.”

Na Captable, 90% dos investidores são institucionais, fundos e family office, o restante pessoa física, principalmente qualificado e profissional. As taxas mais altas, pagas pelos papeis, têm atraído este público. “Tem fundo que já tem o tomador que ele avaliou e que precisa de um CRI, de um CRA ou CR pela 88 porque o custo para colocar este papel via 160 come toda a margem, e chega até a plataforma com esta demanda”, comenta o executivo destacando que pela 160 há muito mais camadas, que incluem liquidante, escriturador, custodiante, distribuidor, do registro na Cetip, do fiduciário e do coordenador líder. “São sete camadas que a plataforma substitui. A 160 nunca vai deixar de existir porque tem player que precisa da segurança que a regra oferece. Agora, para uma operação pequena de R$ 15 milhão ou R$ 30 milhões não justifica.”

Na visão de Paulo Deitos, uma das possibilidades no processo de revisão da CVM 88 é elevar o limite a ser emitido por empresa por patrimônio separado. “Eu acho que a CVM tem o desejo de aumentar para que realmente o crowdfunding seja a porta de acesso no mercado de capitais, se transformando em um criador de leads para a futura 160”, comente o CEO, citando o valor de R$ 100 milhões. “A empresa começa como crowdfunding, pela 88, acessa o mercado de capitais, cresce, e depois faz emissões maiores pela 160.” Para este aumento de valor, Deitos reconhece que há a necessidade de algumas exigências adicionais da CVM.

 

Fonte: Capital Aberto | Publicado em 24/7/2025 | Clique aqui e veja a publicação original.

Lucas Moreira Gonçalves

Ricardo Beck

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