Há tempos que as cooperativas atuam de forma determinante para o crescimento socioeconômico das regiões onde estão presentes, seja pela sua natureza jurídica, seja pelo envolvimento de seus associados na decisão dos rumos que devem seguir. A consequência foi o grande porte econômico que alcançaram, sobretudo pela profissionalização de suas atividades administrativas e operacionais, bem como pela vanguarda e inovação nos seus produtos e serviços, que geraram grandes resultados, dando visibilidade como agentes de transformação positiva.
Nessa atuação de vanguarda, o que se observa agora, com base no princípio fundamental do cooperativismo, é o aumento da utilização da intercooperação, ou seja, as cooperativas estão se unindo para o desenvolvimento de objetivos comuns, sem perder sua autonomia. Dessa forma, conseguem juntas compartilhar conhecimentos e melhores práticas para o desenvolvimento de atividades que, se realizadas de forma isolada, se tornariam mais difíceis e custosas. Alternativas da intercooperação em torno de um objetivo comum incluem a construção de uma fábrica, o desenvolvimento de um produto, uma nova atividade econômica, expansão operacional, tecnológica, entre outras.
Ao se reunir visando um objetivo comum, conseguem transformar dificuldades em oportunidades, haja vista que podem estabelecer como irão atuar de forma conjunta, com divisão de tarefas e recursos, a melhor estrutura jurídica para uma determinada operação, gestão de riscos, metas de produção e resultados, governança conjunta, financiamento e capital de giro, autonomia jurídica, dentre outros aspectos.
Um exemplo prático dessa intercooperação foi a construção de uma fábrica de ração, na qual as cooperativas se uniram para facilitar a obtenção de financiamento, e trabalharam em conjunto para definir a melhor formulação técnica para produção de ração dentro da qualidade e quantidade esperadas, gestão e rastreabilidade dos insumos utilizados. Também definiram em conjunto o processo de pesquisa e desenvolvimento (P&D) para elaboração de novos produtos, inclusive com a possibilidade de criação de marcas comuns, visando a expansão no mercado nacional.
Aqui é importante destacar que a implementação da governança cooperativa é fator fundamental para a boa gestão e o crescimento da intercooperação. A recomendação é que, desde as tratativas iniciais, as cooperativas envolvidas definam como gostariam que a gestão aconteça e constituam tanto o conselho de administração como a diretoria executiva para se gerir o projeto, tendo ainda pessoas com dedicação exclusiva para que os objetivos sejam alcançados.
O que se constata nessa modalidade de atuação conjunta é que, além da atenção com a qualidade da fábrica que se pretende construir, com equipamentos e processos modernos, e preciso ter o cuidado com a qualidade dos produtos e serviços que a atuação conjunta irá gerar. Nesses sentido, a rastreabilidade dos próprios insumos e uma clara definição sobre a gestão conjunta de toda operação têm papel preponderante.
Ou seja, para que a intercooperação seja duradoura e tenha resultados positivos, é necessário garantir a manutenção de uma negociação transparente, e que os termos acordados estejam em conformidade com o que se deseja realizar, personalizando assim a intercooperação.
Para isso, a elaboração de um bom contrato que trate das regras dessa união se torna fundamental, mesmo porque, além de deixar claro que serão mantidas a autonomia jurídica e fiscal das cooperativas, também é necessário tratar da relação com os cooperados, da possibilidade da entrada (ou não) de novas cooperativas na intercooperação, como ela se dará e como será feita a saída de uma cooperativa, seja porque se deseja ou se torne necessário.
Não resta dúvida que a intercooperação é uma forma segura e mais rápida para promover o desenvolvimento econômico e social das cooperativas. Contar com uma base contratual estruturada e o assessoramento jurídico apropriado a fim de estabelecer a sua finalidade e determinar o papel de cada cooperativa na iniciativa, proporciona o ambiente favorável para que cada cooperativa ofereça o que tem de melhor, e potencialize os ganhos da iniciativa conjunta e gere ainda mais valor às cooperativas participantes e aos respectivos cooperados.
Artigo escrito por Ricardo Bruno, advogado especializado em cooperativas.
Fonte: O Presente Rural | Publicado em 13/8/2025 | Clique aqui e veja a publicação original.
